O avanço da inteligência artificial nas rotinas empresariais já é visível em praticamente todos os setores. Segundo levantamento da McKinsey & Company, 71% das organizações passaram a usar IA generativa regularmente até março de 2025, contra 65% no ano anterior. Esse salto é celebrado como sinal de inovação e competitividade, beneficiando operações, atendimento, produtos e marketing. Ferramentas inspiradas em modelos como o ChatGPT auxiliam milhares de funcionários, e na manufatura, a manutenção preditiva evita paralisações custosas.
Porém, o ritmo acelerado de adoção levanta dúvidas sobre o preparo das empresas para integrar tecnologia com responsabilidade, principalmente em decisões estratégicas e de alto impacto. Esse é um ponto crucial que precisa ser debatido.
O entusiasmo com a IA frequentemente esconde a necessidade de maturidade organizacional para operar essas ferramentas com criticidade, consciência e segurança. Sem estrutura para interpretar, validar e supervisionar, a adoção pode gerar vulnerabilidades operacionais e reputacionais.
No setor de fusões e aquisições, essa tensão fica clara. A IA tem o potencial de agilizar triagem documental, análise financeira e simulações, mas há risco ao delegar julgamentos estratégicos a algoritmos. O relatório Artificial Intelligence in M&A 2024 indica que 21% dos profissionais já usam IA, um aumento sobre 16% do ano anterior, mas muitos desconhecem os limites técnicos e éticos da tecnologia.
O problema não é a tecnologia, mas o despreparo para controlá-la. A ilusão de neutralidade algorítmica pode comprometer o rigor da due diligence. Sem governança de dados, validação de modelos e qualificação das equipes, decisões críticas podem ser baseadas em resultados não auditáveis, replicando vieses e mascarando riscos. Assim, a IA pode se tornar um risco silencioso em operações complexas e de alto valor.
Portanto, tecnologia sem discernimento não é progresso, é exposição. IA aplicada com supervisão humana, métricas transparentes e integração gradual pode transformar M&A, gerando agilidade, controle de riscos e decisões mais embasadas. Mas isso depende de critérios técnicos e estratégicos, não de modismos.
O futuro das organizações depende menos da velocidade de adoção da IA e mais da maturidade para usá-la. A vantagem competitiva está em combinar inteligência artificial com inteligência institucional, ética e visão de longo prazo.
Franklin Tomich é sócio-fundador da Accordia
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