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A superficialidade brasileira diante da revolução da inteligência artificial

A inteligência artificial segue encarada como um recurso complementar, e não como um motor central de transformação de processos

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A revolução da inteligência artificial já está moldando o presente dos negócios globais, mas o Brasil ainda assiste de longe. Enquanto mercados líderes como os Estados Unidos avançam rapidamente em escala e sofisticação tecnológica, a adesão estratégica à IA permanece tímida entre os executivos brasileiros.

Segundo um levantamento divulgado pelo Google Cloud em 2024, apenas 33% dos CEOs no Brasil lideram diretamente iniciativas de inteligência artificial em suas empresas, bem abaixo da média global de 46%. O dado revela um descompasso preocupante entre o imenso potencial transformador da IA e a baixa disposição do empresariado brasileiro em tratá-la como uma prioridade de gestão.

No Brasil, observa-se o uso crescente de ferramentas baseadas em IA, como assistentes virtuais e geradores de texto. No entanto, esse uso ainda é majoritariamente pontual e operacional. A inteligência artificial segue encarada como um recurso complementar, e não como um motor central de transformação de processos, modelos de negócio e estruturas organizacionais.

Diferentemente do que se vê em ecossistemas mais maduros, como o Vale do Silício, onde inovação é tratada como parte essencial do cotidiano corporativo, ainda predomina por aqui uma resistência cultural e estrutural à mudança. Falta investimento em bases robustas de dados, clareza nos fluxos internos e, principalmente, visão estratégica para reestruturar operações com foco na automação inteligente e na eficiência escalável.

A adoção profunda e bem-sucedida da IA exige mais do que ferramentas: requer método. A tecnologia não gera valor em ambientes desorganizados, com dados inconsistentes e processos pouco mapeados. Nesse contexto, a maior armadilha das organizações brasileiras tem sido buscar os resultados da IA sem fazer o trabalho prévio de preparação. Muitas empresas desejam colher os ganhos de produtividade e redução de custos sem antes estruturar os alicerces.

Sem uma base sólida, composta por dados qualificados, processos bem definidos e times capacitados, a IA se torna apenas mais uma camada tecnológica mal aproveitada.

Para reverter esse cenário, é urgente um compromisso real com a transformação. O Brasil precisa investir em educação tecnológica, formar lideranças preparadas para conduzir essa mudança e criar uma cultura organizacional que incentive a experimentação e a responsabilidade digital.

Adotar a IA de forma estratégica significa compreender que não se trata apenas de uma nova ferramenta, mas de uma mudança de paradigma na maneira de pensar e operar negócios.

O país ainda pode recuperar terreno e liderar soluções inovadoras com sua reconhecida criatividade e capacidade de adaptação,mas isso exige ação imediata, liderança visionária e coragem para romper com a superficialidade.

Luiz Ballas é CEO da Ocupe

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