Com muitos rios, excelente incidência solar e bons ventos, o Brasil é uma potência mundial na geração de energias renováveis. Contudo, com o crescimento da geração eólica e solar no país, especialmente no Nordeste, o sistema de transmissão brasileiro tem enfrentado dificuldades para escoar esse grande volume de energia para o Centro-Sul. Trata-se de uma “dor de cabeça” para o setor elétrico atualmente, mas que pode ser atenuada por causa de possíveis novos projetos de data centers usados por inteligência artificial (IA).
Um recente documento elaborado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), disponível na íntegra neste link, indica que a expansão prevista da geração renovável solar e eólica tem gerado uma tendência de excedente energético em determinados períodos do dia.
Além disso, o sistema de transmissão enfrenta limitações de escoamento devido ao esgotamento das interligações e a problemas de estabilidade, associados à elevada penetração de fontes conectadas por inversores, o que resulta em perdas operacionais significativas.
É nesse cenário que a inteligência artificial pode ser o remédio para essa enxaqueca. De acordo com o ONS, nesse contexto, as indústrias de hidrogênio verde (H2V) e data centers usados por IA emergem como “soluções promissoras” para absorver parte do excedente de geração renovável.
“Os projetos [de data centers] apresentam um perfil de consumo constante e elevado em todos os horários e dias, e os investidores têm manifestado interesse em se conectarem ao sistema no horizonte de 2025 a 2029”, afirma o ONS.
Desafios para o futuro

A conexão de grandes blocos de carga de hidrogênio verde e data centers, que teoricamente poderia ajudar a minimizar o excedente de geração renovável no Brasil, pode também gerar novos desafios para o sistema elétrico do país. O ONS afirma que as obras planejadas para entrarem em operação no horizonte de 2025 a 2029 não consideraram a conexão desses grandes blocos de carga no desenho das soluções estruturais associadas.
Nesse contexto, a integração de elevados montantes de demanda, sem um sistema de transmissão planejado especificamente para suportá-los, configura-se como um desafio adicional para o setor elétrico brasileiro, até que o planejamento da expansão incorpore essas projeções, utilizando a melhor modelagem de carga possível, em seus estudos.
Apesar dos intensos investimentos na rede de transmissão na última década, pode ser que a rede planejada não seja suficiente para atender os grandes blocos de carga de hidrogênio verde e data centers que pretendem se instalar no país.
“Informações sobre projetos que protocolaram processo de conexão à Rede Básica junto ao MME mostram que a evolução da carga prevista para os data centers terá um grande crescimento nos próximos anos, com novos projetos, principalmente, nos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul e Ceará”, alerta o ONS.
Por fim, o ONS ainda chama a atenção para o curto tempo de implantação dos data centers, que não é compatível com os prazos de elaboração dos estudos e execução das obras de transmissão, atualmente de aproximadamente 48 meses.
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