O IA Brasil Notícias publica neste sábado (8), Dia Internacional da Mulher, uma reportagem especial sobre uma iniciativa que pode representar uma revolução na detecção de um inimigo traiçoeiro da saúde feminina: o câncer de colo de útero. Sabine Zink e Adriana Mallet, co-fundadoras da organização social SAS Brasil, estão à frente de um projeto que pretende usar a inteligência artificial (IA) para trazer mais agilidade ao diagnóstico dessa doença.
O objetivo do projeto é reduzir o número de consultas necessárias e garantir que, após o rastreio, a paciente inicie o tratamento em até 60 dias.
O câncer de colo de útero é a quarta causa de morte de mulheres no mundo. É o segundo tipo de tumor mais comum entre mulheres, ficando atrás apenas do câncer de mama. São 265 mil óbitos e 530 mil novos casos da doença por ano no planeta. No Brasil, existe uma incidência de 16 mil novos casos anualmente. As regiões Norte e Nordeste são as mais afetadas.
“No Norte do Brasil, o câncer de colo de útero é o que mais causa óbitos entre as mulheres. Além disso, 75% das mortes globais estão em países de baixa ou média renda. Então, podemos dizer que ele é, de fato, o maior marcador social entre os tipos de câncer que temos no mundo”, detalha a empreendedora social Sabine Zink.
A boa notícia é que a doença é curável, especialmente se diagnosticada precocemente. O grande desafio, no entanto, é a longa “maratona” que as pacientes enfrentam desde os primeiros exames até o início do tratamento.
Economizando tempo

Fundada em 2013, a SAS Brasil é uma organização social que proporciona saúde especializada a regiões remotas. A iniciativa começou com atendimentos em unidades móveis de saúde, levando assistência a pequenas cidades do país. Em 2017, a SAS passou a usar a telemedicina para realizar o exame de rastreio de câncer de colo do útero, sem a necessidade da presença física de um médico na consulta.
“Com o tempo, ampliamos essa abordagem para outras especialidades, como teledermatologia, e também para o acompanhamento de pacientes crônicos. Nosso objetivo sempre foi utilizar a saúde digital para facilitar o acesso das pessoas aos especialistas”, afirmou Sabine.
Hoje, há dois aliados fundamentais na luta contra o câncer de colo de útero. O primeiro deles é o Papanicolau, um exame ginecológico que coleta material para análise laboratorial. Já a colposcopia é um exame de imagem, pelo qual o médico observa o colo do útero da mulher.
Em cidades do interior do país, o grande obstáculo é a quantidade de deslocamentos necessários até que a paciente receba um diagnóstico. Após o exame de Papanicolau, é preciso passar por um ginecologista e agendar uma colposcopia. Esse processo pode ser demorado e oneroso, especialmente em municípios do interior.
Além disso, muitas mulheres precisam viajar para outras cidades de referência para realizar os exames. Sabine faz um alerta importante: no Brasil, um paciente viaja, em média, 155 km para chegar a um atendimento especializado. Para superar essas dificuldades, a SAS Brasil recorreu à tecnologia para agilizar a triagem de pacientes.
“Tornamos o exame de Papanicolau mais eficiente: além da coleta, ele agora inclui a captura de imagens”, detalha Adriana Mallet, que também é médica e Mestre em Inovação em Saúde no Hospital de Câncer de Barretos (SP).
A especialista conta que a captura de imagens do colo do útero trouxe inúmeros benefícios, sendo o principal a economia de tempo. Em alguns casos, o médico já consegue identificar a lesão de forma remota e encaminhar a paciente diretamente para o tratamento, caso necessário.
IA como aliada contra o câncer

Além de beneficiar as mulheres atendidas pela SAS Brasil, a geração de imagens dos exames pode, em breve, impulsionar uma nova revolução na detecção do câncer de colo de útero.
Ao criar uma base de imagens, percebeu-se que existia um padrão nas lesões. A partir dessa descoberta, a SAS Brasil se uniu ao Hospital de Barretos e à professora Sandra Ávila, do Instituto de Computação (IC) da Unicamp, para aplicar inteligência artificial na análise dessas fotos produzidas nos exames.
Atualmente, o IC/Unicamp analisa um banco de dados com aproximadamente 80 mil imagens do Hospital de Barretos e as 10 mil primeiras imagens da SAS Brasil. Os especialistas avaliam a viabilidade de treinar a IA para realizar o diagnóstico preditivo da doença – e os resultados têm sido animadores.
“Estamos nesse momento com os primeiros resultados mostrando que, sim, é possível treinar a máquina. A professora Sandra nos deu ‘uma lição de casa’, pedindo para melhorar o padrão de imagens. Temos uma profissional responsável por essa validação, o que chamamos de gold standard, que verifica e classifica as imagens, determinando se são satisfatórias ou não para o diagnóstico”, disse Adriana.
A meta da SAS Brasil é que, até o final deste ano, o banco de imagens esteja completo e com todas as melhorias na qualidade das imagens que chegam para análise. A IA não substituirá o médico no diagnóstico, mas auxiliará na priorização de casos.
“Nossa expectativa é que, em aproximadamente um ano e meio, possamos afirmar com segurança que a tecnologia está pronta para essa triagem. E esse é o ponto mais importante: saber onde olhar primeiro pode salvar vidas. Nosso objetivo é assegurar que as mulheres em situação mais crítica recebam atendimento prioritário”, concluiu Adriana.
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