Embora com desafios a vencer, plano brasileiro de IA mira protagonismo com investimento de R$ 23 bilhões

Governo federal prevê recursos em ações para impulsionar inovação tecnológica com foco em inclusão, soberania e sustentabilidade; garantia de orçamento para as medidas ainda é incerta

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O governo federal apresentou no último ano o Plano IA para o Bem de Todos (PBIA), uma proposta ambiciosa que pretende posicionar o Brasil como referência internacional no desenvolvimento e aplicação de Inteligência Artificial (IA). Com investimento estimado em mais de R$ 23 bilhões, o plano está estruturado em cinco eixos estratégicos e reúne 54 iniciativas concretas, com ênfase em inclusão social, preservação ambiental e avanço tecnológico nacional.

📄 Acesse o plano completo: PBIA – IA para o Bem de Todos (PDF)

Um dos principais fundamentos do PBIA é a busca por soberania tecnológica. Entre as metas, está a instalação, em território brasileiro, de um dos cinco supercomputadores mais potentes do planeta, movido a fontes de energia renováveis. O plano também contempla o desenvolvimento de chips de alto desempenho voltados à IA, em colaboração com instituições internacionais.

Outro ponto de destaque é o desenvolvimento de modelos de linguagem em português, capazes de refletir a diversidade cultural, regional e linguística do Brasil. A ideia é construir uma IA que compreenda gírias, sotaques, expressões locais e o contexto sociocultural brasileiro — uma espécie de IA genuinamente nacional.

Foto: tonodiaz/Freepik

A dimensão social também ocupa lugar central no plano. A proposta estabelece que a inteligência artificial deve ser “centrada no ser humano e acessível a todos“, respeitando a dignidade individual, os direitos sociais e a pluralidade cultural. Além disso, reforça a valorização do trabalho e a necessidade de mitigar desigualdades e vieses discriminatórios.

Para sustentar o desenvolvimento e o uso estratégico de IA no país, o governo reservou R$ 1,15 bilhão para programas de educação, formação e capacitação. A proposta envolve desde a educação básica até a pós-graduação, com iniciativas de requalificação profissional e parcerias com o setor privado, incluindo o Sistema S. O plano também prevê campanhas de conscientização sobre o uso responsável da tecnologia e a defesa da integridade das informações.

A maior parte dos recursos — R$ 13,79 bilhões — será destinada a estimular a inovação no setor produtivo. O objetivo é criar uma cadeia de valor sólida em IA, com ações como o desenvolvimento de soluções para desafios industriais, a construção de datacenters de baixo impacto ambiental, a criação de hubs de apoio à indústria e o incentivo a startups especializadas em IA.

Com investimento de R$ 1,76 bilhão, o plano também visa modernizar os serviços públicos por meio da inteligência artificial. Entre as medidas, estão a criação de uma infraestrutura nacional de dados em nuvem soberana, voltada à segurança da informação, autonomia tecnológica e privacidade dos cidadãos.

Outras ações previstas incluem a criação de um Núcleo de IA no governo federal, o desenvolvimento de uma Infraestrutura Nacional de Dados e um programa específico para soluções de IA voltadas ao setor público.

O plano também menciona a formação de uma rede de especialistas brasileiros para ampliar a presença do país nos debates e fóruns internacionais sobre IA.

Apesar do escopo ambicioso, especialistas chamam atenção para os desafios de implementação. A complexidade de coordenar ações entre diversos ministérios, a dependência de continuidade política e a capacidade de execução orçamentária estão entre os pontos críticos para que o plano se torne realidade.

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