Incentivos

Isenção de impostos e outras políticas podem atrair mais projetos de data centers para o Brasil, avalia Fitch

Iniciativas como o plano Redata e incentivos fiscais podem impulsionar investimentos bilionários e estimular a expansão do setor no país

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As medidas propostas pelo governo federal para o setor de data centers podem tornar o Brasil mais atrativo para grandes empresas globais de tecnologia (os chamados hyperscalers) interessadas em expandir operações na América Latina. A avaliação é da agência de classificação de risco Fitch Ratings, que aponta também o potencial dessas ações para acelerar o desenvolvimento de uma indústria ainda em fase inicial no país.

Nos últimos anos, o Brasil tem se consolidado como um centro relevante de data centers na região, impulsionado por uma infraestrutura de redes neutras de fibra ótica e pela oferta de energia renovável, fatores estratégicos para companhias que priorizam a redução de emissões de carbono. Desde 2021, o setor movimentou mais de R$ 11 bilhões por meio da emissão de debêntures no mercado doméstico, atraindo o olhar de diversos investidores. No entanto, desafios como juros elevados, escassez de profissionais especializados e tributação sobre equipamentos importados ainda travam um crescimento mais acelerado.

Uma das apostas do governo é o Redata, um plano nacional para o setor que poderá eliminar tributos sobre a importação de equipamentos. A proposta também inclui a criação de um marco legal mais sólido, com normas sobre segurança digital e proteção de dados em estruturas voltadas à inteligência artificial.

A retirada de barreiras tributárias poderia facilitar a entrada de empresas multinacionais no Brasil. De acordo com estimativas da Fitch, cada megawatt (MW) instalado demanda cerca de US$ 10 milhões em aportes por parte das operadoras e entre US$ 40 milhões e US$ 50 milhões em equipamentos — custos geralmente assumidos pelos clientes. Como a maioria desses aparelhos é importada, a taxação atual de até 100% representa um impacto expressivo. A redução poderia gerar uma economia de bilhões para gigantes como Oracle, AWS, Alphabet (Google) e Meta, cujos centros de dados podem ter capacidade entre 50 MW e 70 MW.

Normalmente, empresas estrangeiras que chegam ao país firmam parcerias com operadoras brasileiras como Scala Data Centers, Elea Data Centers (avaliada como BBB(bra)/Estável pela Fitch) e Ascenty Data Centers. O objetivo é se beneficiar da experiência local com processos regulatórios e de licenciamento.

Rio de Janeiro busca protagonismo

Além do plano federal, a Prefeitura do Rio de Janeiro anunciou recentemente uma colaboração com a Elea Data Centers no projeto “Rio AI City”. Como parte do acordo, o município cederá áreas próximas à unidade da empresa para a construção de um campus de inteligência artificial com previsão inicial de 80 MW de capacidade em 2026, podendo atingir até 3,2 GW em fases futuras.

Essas iniciativas podem fortalecer a estratégia da Elea de fechar contratos do tipo take-or-pay com companhias internacionais — modelo em que o cliente se compromete a pagar pelo serviço, mesmo que não o utilize integralmente. Segundo a Fitch, esse tipo de acordo pode ajudar a empresa a reduzir riscos relacionados à expansão, como incertezas quanto à ocupação e à receita, além de melhorar sua avaliação de crédito. Contratos em dólar, com clientes estrangeiros, também abririam caminho para emissão de dívidas em moeda estrangeira, ampliando o acesso a recursos e reduzindo o custo de financiamento.

Atualmente, a nota da Elea é limitada por fatores como escala ainda pequena, baixa taxa de ocupação e uma expectativa de cobertura de juros pelo EBITDA entre 1,0 e 1,5 vez nos próximos anos. A agência também projeta uma alavancagem líquida próxima a 5,5 vezes no horizonte da avaliação.

Segundo a Fitch, o grande desafio para as empresas do setor está em equilibrar os planos de crescimento com uma estrutura de capital e liquidez robustas. O cenário se torna ainda mais delicado diante do elevado custo do crédito no Brasil — a taxa Selic segue em 14,75%. Mesmo com aportes de capital próprio entre 20% e 30%, expansões, sejam orgânicas ou via aquisições, tendem a pressionar temporariamente os níveis de endividamento. A agência, no entanto, vê com bons olhos os contratos take-or-pay com empresas sólidas, que podem justificar alavancagem mais alta no curto prazo.

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