O IA Brasil Notícias estreia nesta terça-feira (3) a série especial de entrevistas “O Futuro da IA no Brasil”, que busca mapear o posicionamento do país no mercado global de inteligência artificial. Ao longo da série, vamos ouvir especialistas, cientistas, políticos e executivos sobre os principais desafios e oportunidades do Brasil no setor. A primeira entrevistada é Helena Fragomeni, CEO da Hands-on, que vê um papel “promissor” para o Brasil – líder na intenção de investimento em IA na América Latina. Contudo, o país ainda enfrenta obstáculos, como a formação de profissionais qualificados.
Como você vê o papel do Brasil no mercado global de IA hoje — e qual deve ser o peso do país nesse setor nos próximos anos?
O Brasil tem um papel promissor no ecossistema global de Inteligência Artificial, especialmente como um território fértil para a aplicação prática e inclusiva da tecnologia. Ainda que não sejamos um polo de deep tech como Estados Unidos ou China, temos um grande diferencial: a necessidade urgente de soluções que funcionem no mundo real, com simplicidade, escala e impacto direto.
A boa notícia é que as barreiras de entrada estão caindo — inclusive o idioma. Com a IA, tarefas como tradução, localização de conteúdo e acesso a conhecimento técnico ficaram muito mais acessíveis. Isso reduz a vantagem competitiva dos países de língua inglesa e abre espaço para o Brasil crescer em protagonismo. É um cenário que pode nos beneficiar, desde que consigamos formar talentos e adotar tecnologias de maneira mais ampla e estratégica.
Outro dado revelador: o Brasil lidera a intenção de investimento em IA na América Latina, segundo pesquisa da SAP, com 62% das empresas planejando aumentar seus aportes em 2025. Estamos em um momento decisivo: se conseguirmos combinar agilidade, inclusão digital e formação de base, podemos ser um dos países que mais se beneficiará da nova era da IA.

O que ainda falta para o Brasil avançar mais nesse mercado e aproveitar plenamente as oportunidades atuais?
O que falta é reduzir o fosso entre o avanço tecnológico e a realidade da maioria das empresas e trabalhadores brasileiros. Ainda temos uma base produtiva majoritariamente operacional, com baixa escolaridade média e dificuldade de acesso à capacitação tecnológica. Isso faz com que o impacto da IA no Brasil seja mais direto em tarefas repetitivas — ou seja, o risco da automação aqui atinge mais quem já está em situação de vulnerabilidade no mercado de trabalho.
Ao contrário de países desenvolvidos, onde a IA está substituindo funções intelectuais complexas, no Brasil ela avança primeiro sobre funções operacionais, por meio de automações simples e acessíveis. E isso exige uma resposta rápida em termos de requalificação.
Por outro lado, temos um ativo poderoso: as microempresas brasileiras estão demonstrando maior velocidade de ação e menos resistência à adoção da IA. Segundo o estudo da SAP, apenas 11% das microempresas relatam resistência organizacional à IA, contra 29% das médias empresas. Isso mostra que, ao contrário do que muitos imaginam, os pequenos podem liderar essa transformação.
O Brasil precisa investir fortemente em formação técnica, políticas públicas inclusivas e soluções acessíveis. Só assim o país poderá não apenas reagir à disrupção, mas usar a IA como motor de competitividade e inclusão produtiva.

Quais são os maiores desafios na formação de profissionais para atuar com IA no país — e como superá-los?
O maior desafio está na formação massiva de profissionais em um curto espaço de tempo, num país onde o sistema educacional ainda não acompanha a velocidade da transformação tecnológica.
Além disso, o Brasil tradicionalmente enfrentava uma barreira importante de acesso ao conhecimento técnico por conta do idioma, já que boa parte do conteúdo e das ferramentas de IA estão em inglês. Mas isso está mudando. Com o uso da própria IA para tradução e localização de conteúdo, a barreira linguística está sendo rompida — o que é um avanço enorme para um país como o nosso, onde a fluência em inglês ainda é restrita a uma parcela pequena da população.
Essa mudança abre uma janela de oportunidade: com a IA reduzindo barreiras linguísticas e tecnológicas, o desafio agora é pedagógico e estrutural. Precisamos ensinar de forma prática, rápida e contextualizada.
É aqui que soluções como a Hands-on fazem a diferença. Nossa plataforma de autoria com IA permite que qualquer empresa, inclusive de pequeno porte, crie treinamentos digitais com alta qualidade visual e técnica, sem precisar de expertise prévia. Democratizamos o treinamento corporativo — algo que antes era privilégio de grandes empresas — e, com isso, contribuímos diretamente para a formação contínua e escalável da nova força de trabalho brasileira.
Quais são as principais iniciativas ou inovações em IA que sua empresa está desenvolvendo atualmente?
A Hands-on desenvolve uma plataforma de autoria de cursos online potencializada por IA, com o objetivo de reduzir drasticamente o tempo e o custo da produção de treinamentos corporativos. Com nossa tecnologia, empresas podem criar cursos completos — com roteiro, recursos visuais e versões multilíngues — em até 90% menos tempo do que o processo tradicional.
Nossa missão é clara: empoderar empresas de todos os portes — especialmente as que estavam à margem desse mercado — para que possam treinar suas equipes com agilidade, escala e qualidade.
Num cenário em que a IA exige atualização constante, a formação deixou de ser um luxo e passou a ser uma questão de sobrevivência empresarial. Por isso, nossa visão é que a Hands-on seja não apenas uma plataforma, mas uma alavanca de competitividade para as empresas brasileiras entrarem de fato na nova economia digital.
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